8 de julho de 2010

Pérolas, uma paixão!!!

Ostra Feliz Não Faz Pérola

"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores.
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem."

Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário... Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste... As ostras felizes riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão..." Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.


O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.

Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-a em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade; era uma pérola, uma linda pérola. Apensa a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz..."

Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras, e vale para nós, seres humanos.
As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem... Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores da alma.

Livro: Ostra feliz não faz pérolas - Rubem Alves - Editora Planeta - 280 páginas que recomendo por ser um livro, sem princípio, sem meio e sem fim. Um álbum de fotografia em que cada fotografia vale por si mesma, sem precisar estar ligada à outra fotografia colocada ao seu lado. Tem uma vantagem: qualquer página é um começo e um fim...


Relendo esse maravilhoso texto de RUBEM ALVES fiquei pensando sobre os impasses que a vida nos reserva e como eles podem se transformar em preciosas jóias...
Tudo vai depender da forma criativa ou destrutiva como encaramos os problemas, ou seja: nossas decepções, perdas, preocupações, tristezas, dores, desamor, de como nos defenderemos deles, do tempo e do cuidado que vamos ter para processar e assimilar cada situação embaraçosa...
A ostra não pode respirar sem correr o risco de captar para seu interior um grão de areia, que a machuca pela aspereza, mas descobriu como atenuar sua dor criando sobre o gão de areia um revestimento precioso, que se transforma em jóia preciosa.


Acredito que pela misericórdia de Deus eu pude me  espelhar nesse  exemplo silencioso e transformar aquilo que me feriu na vida em verdadeiras pérolas difusoras do belo, ou  seja: ensinando as crianças, compartilhando os  meus saberes, redigindo estórias e textos, pintando telas, fazendo bordados, arquitetando  trabalhos artesanais, criando delicadas peças de bijouterias, restaurando peças decorativas, cuidando das flores, das plantinhas e da natureza, ajudando os menos favorecidos, ajustando-me a nova situação com paciência, mais desarmada, sem tantas reclamações pelos grãos de areia que foram aparecendo...
Sempre fui uma admiradora apaixonada das pérolas, acho que agora descobri o porquê...
Regina Coeli

6 comentários:

  1. hahahaha
    Acabei de lançar uma pérola... hehehe E nem sabia que tinha postado este texto... Encaixou perfeitinho.
    Eu só sei fazer um tipo de pérolas, minha matéria prima são palavras... Bordar, pintar, e outras artes, eu admiro das amigas!
    Amo Rubem Alves.
    Beijos.

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  2. Tb amo as pérolas, agora tb já sei porque! Bjs querida!

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  3. Regina querida,
    obrigada pelo lindo texto e suas reflexões caem na minha alma como um sopro de Deus.
    Que vida linda!!!
    Gde abraço, em divina amizade,
    Sonia Guzzi

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  4. Querida Regina me emocionei ao ler este texto,Pérolas,ele me faz refletir,sobre todos os grãos de areia que tive que transformar em pérolas,até mesmo para sobreviver,e ajudar outras pessoas sobreviverem .Lindo!lindíssimo!! Obrigada por me proporcionar este texto beijos Sílvia

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  5. Metáfora perfeita, tocante. Profunda a reflexão que causa, pq vamos lembrando dos inúmeros grãozinhos de areia que transformamos em pérola...assim como os que não, e foram se juntando, formando uma pedra...compactando as dores e provocando o sofrimento do "peso" que é carregar pedras...

    Vou comprar o livro, só o manuseei, agora me encantei...rs
    Bjos, obrigada por este presente maravilhoso. Estou levando comigo, para compartilhar com as pessoas que amo...pode né, Regina?

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