Saudade de Você Mamãe!

O tempo passa tão depressa!

Hoje levantei saudosista...

A lembrança de minha Mãe se instalou fortemente em minha memória...

Ela nasceu na cidade mineira de Cataguases, era filha de um português que veio ainda menino para o Brasil e de uma mineira franzina e de pouca escolaridade.

Viveu ao lado de um único irmão: tímido, de pouca conversa e ambição enquanto ela desde muito cedo se colocou a frente do seu tempo...

Uma jovem esguia, de traços bonitos, comunicativa, religiosa e sempre atuante...

No Colégio das Irmãs Marcelinas de Muriaé-MG fez parte do Time de Vôlei Feminino, destacando-se pelos saques fulminantes que desarticulavam as adversárias, nesse Colégio concluiu o equivalente ao Ensino Médio de hoje, na Área Comercial, assim como trabalhou como Balconista na melhor Loja de Calçados da cidade - A FUTURISTA, uma ousadia para uma moça de sua época...

Casou-se logo depois dos 20 anos com um jovem “matuto”, cuja escolaridade não chegava a 4ª série primária e logo vieram os filhos em número de oito: 4 homens e 4 mulheres.

Deus chamou 4 para junto Dele e deixou-a com a responsabilidade de criar e educar os outros 4 e ela ainda adotou como filha uma menina que peguei para criar, com um dia de nascida, pois naquele tempo eu ainda não tinha maior idade, era solteira e o Juiz não permitiu que eu a adotasse.

A vida de Mamãe não foi nem um pouco fácil e tenho a certeza absoluta que muitas vezes ela teve que se virar para dar conta do recado: cuidar dos filhos e do marido, organizar a casa, cozinhar, lavar, passar a roupa da família, e administrar o parco dinheiro conseguido por Papai em seus humildes empregos.

Na cozinha muitas vezes ela reinventava os pratos tradicionais para alimentar com mais sabor a sua prole...

A luta diária desfez seus sonhos, boicotou sua vaidade, atenuou sua capacidade intelectual, roubou-lhe momentos de descontração e esse desgaste deixou-a insatisfeita e a amargura fez morada em seu coração...

Acredito que os sentimentos de minha Mãe ficaram enrustidos e não me lembro de receber dela beijos, abraços, carinhos, cafunés, elogios e nem mesmo lembro de um sorriso dela...

Somente muito mais tarde é que fui compreender tudo isso...

Eu me entristeço sempre ao lembrar que Mamãe não conheceu um SHOPPING, não usou uma escada rolante, não pisou na areia de uma praia, não provou a água salgada do mar (como nós autênticos mineiros fazemos), não conheceu essa parafernália de eletrodomésticos modernos, viajou muito pouco, e se foi 4 dias antes do meu caçula Rafael nascer...

Lembranças materiais de Mamãe, quase não tenho...

Em 1979, quando nossa casa foi invadida por 1,78m de água, pela maior enchente que se tem notícia na região, perdemos a maioria de nossos bens e outros tantos ficaram danificados.

Os retratos desintegraram, assim como documentos, papéis, livros revistas...

As roupas pessoais, de cama, mesa e banho não puderam ser recuperadas, o mesmo acontecendo com a maioria dos móveis e utensílios.

Essa semana ao reorganizar guarda-roupas, baús e gavetas a saudade invadiu meu coração ao deparar com essas peças valiosas, que não sei como explicar, saíram intactas da enchente:

- o TAPETE DE BARBANTE que deu tanto trabalho para ela terminar, isso graças a sua teimosia, mesmo sem ter orientação de alguém entendido na arte de crochetar;

- as TIRAS AMARELAS DE CROCHÊ que ela demorou tanto para tecer, para mais tarde transformá-las em uma Colcha de Solteiro, o que não aconteceu;

- o MISSAL (caríssimo para a época), um presente que ela me deu no dia em que completei 14 anos, usado por mim durante muitos anos para acompanhar as missas daquela época ainda celebradas em Latim.
E então me dei conta de quanto tempo havia passado...

Se Mamãe estivesse aqui hoje, 20 de maio, estaria completando 90 anos.

Baixinho repito o versículo que ela sempre citava: “Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Se assim não fora eu vos teria dito, pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que onde eu esteja, também vós estejais.”(Jo -1 a 3).
Pela minha fé eu sei que ela está bem, contempla a Face de Deus e habita uma das moradas do Pai, isso conforta meu coração!!!

Dela eu tenho apenas essas três lembranças materiais, mas o mais precioso foram as lições que eu aprendi com minha MÃE LAURA e coloquei em prática em minha vida pessoal e profisssional:

- a lealdade;

- a religiosidade;

- a retidão;

- a bondade;

- a fortaleza;

- a persistência;
- a simplicidade;

- a resignação na doença;

- a palavra encorajadora;

- o gosto pelo estudo e pela escrita;

- a vontade de aprender sempre,

- o desafio de encontrar soluções;

- a interação com as pessoas;

- o respeito pelos mais velhos;

- a admiração pelas artes manuais;

- a gratidão por tudo que é recebido;

- a paciência para com as crianças e os animais;

- a benevolência para com os menos favorecidos;

Maio era um mês esperado por ela, porque comemorava o Dia das Mães, seu aniversário no dia 20, o aniversário do primeiro neto no dia 25, de uma filha dia 27 e o aniversário de seu casamento no dia 31.
Nesse 20 de maio rendo homenagem a minha Mãe LAURA, louvo a Deus por ter sido gerada em seu ventre e registro para ela minha eterna gratidão, pois com seus ensinamentos aprendi a valorizar a vida e contribuir para tornar esse mundo melhor.

Regina Coeli